Temos nos deparado com um dilema profundo no dia a dia do escritório, que tem por fundamento as premissas do prazo e da qualidade profunda para entrega de documentos jurídicos.
Venho de uma escola de escritórios de advocacia onde o prazo curtíssimo para entrega de documentos de sofisticada complexidade, sempre foi um diferencial de mercado.
Me lembro de receber demandas de trabalhos extremamente complexos e de grande dificuldade técnica, às quintas-feiras, no final da tarde, para entrega na segunda-feira pela manhã. Ou, ainda, contatos atípicos e intrincados, a serem elaborados durante a madrugada, para um “fechamento” que aconteceria pela manhã do dia seguinte.
Eu me lembro também de sempre cumprir esses prazos, mas de sofrer demais por isso!
Sofria porque não sabia ao certo se o documento estava no formato ideal, se havia inserido tudo que era necessário, porque queria aprofundar nas pesquisas de legislação, doutrina e jurisprudência, mas não dava tempo….sofria porque sentia medo de algo ter saído errado….sofria porque estava sempre exausta, no meu limite físico, mental, emocional. Pressão intensa somada à responsabilidade tremenda….sabe?
Pois! Abri meu escritório, achando que daria para fazer tudo diferente, mas me deparei com a necessidade de seguir atendendo aos prazos insanos do mercado. Afinal, nosso escritório é inovador, arrojado, nova era, mas ele opera no mesmo mercado que temos disponível.
E é incrível como, todos, sempre, estão com pressa. As pessoas às vezes nem sabem porque estão com pressa, mas apresentam o prazo insano porque acham que é assim que tem ser.
Falei num post meu recente sobre uma percepção profunda acerca das urgências: urgências que são reais (como um prazo processual preclusivo) e urgência emocionais.
Alguns desses prazos insanos são reais, mas alguns são, de fato, prazos que vêm da ansiedade de sair correndo de uma situação, da insuportabilidade que alguns eventos causam em nós, nos fazendo ter que “resolver algo” correndo, algo assim? Sigo aqui com minha pesquisa existencial e minha análise profunda da condição humana.
Mas, paralelamente a isso, tenho tido a responsabilidade e a consciência de orientar e sugerir aos clientes, que façamos as coisas com mais calma, cuidado e presença. Isso é uma percepção de autocuidado e de cuidado com a minha entrega! O que acaba sendo uma intersecção favorável a todos.
Percebi que prazo e qualidade são grandezas diretamente proporcionais, ou seja, quanto maior o prazo, maior qualidade da entrega, sendo a recíproca verdadeira.
Eu e considero uma boa advogada hoje em dia. Completando 37 anos no 08 de abril de 2022, congreguei hard e soft skills desenvolvidos aos longo de 20 anos esticando e atuando no Direito e aprofundando no meu caminho de autoconhecimento. Ainda assim, se tenho uma semana, dez dias, para elaborar um Contrato de alta complexidade, tenho certeza que ele terá uma qualidade muito maior do que aquele que precisa ser feito do dia para a noite.
Assim, um dos novos paradigmas que tentamos estabelecer no âmbito do MVTLaw e do JusLaw, na contramão desse mercado hostil, confuso e de parâmetros irreais, é a humanização dos prazos.
Garanto que gente feliz, descansada, focada, mindful e presente tem condições de entregar trabalhos de muito mais qualidade!
Faz sentido?